segunda-feira, novembro 22, 2010

A lógica da vida invertida

Relatos das famílias que perderam seus jovens em acidentes
Kamila Almeida | kamila.almeida@zerohora.com.br

A cada cinco horas, uma família é dilacerada pela notícia da morte brutal em acidentes no trânsito gaúcho. Histórias particulares se condensam em estatísticas, como as 1.405 vidas ceifadas de janeiro a outubro deste ano, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Do total, 359 não chegaram aos 30 anos de idade — e 259 ficaram entre os 18 e 24 anos. Atordoados diante da lógica invertida, casais que perderam filhos eternizam a última lembrança de seus tesouros: o quarto.

O colorido impregnado no dormitório juvenil contrasta com o caminho acinzentado que os pais passaram a percorrer. As flores, a luz da vela e os adornos típicos de quem, aos 18 anos, ainda tateava no mundo adulto são os itens visíveis do quarto de Alessandra Andreolla Feijó, filha do empresário e vice-governador Paulo Afonso Feijó, 52 anos, e da professora de educação física Lisette, 49 anos.

— Nos primeiros seis meses eu dormia aqui, vez por outra. A sensação é de que, no quarto, estamos mais perto. Era o cantinho dela — conta Lisette.

Luanda Patrícia, filha dos empresários Eliane, 37 anos, e Roque Redante, 43 anos, de Guaporé, também tinha 18 anos quando partiu. O dormitório rosado ficou intacto. Num bloco, Luanda deixou rabiscados 45 desejos que ela calculava alcançar antes dos 35 anos. Cumpriu, pelas suas anotações, apenas três: "dançar em cima de um palco loucamente", "dormir com a roupa que saiu" e "viajar com as amigas".

Em Flores da Cunha, a empresária Noeli Agostinetto, 38 anos, mãe de Willian, 19 anos, quis fazer diferente. Logo após a morte do adolescente, tentou se desfazer de tudo, mas já na primeira doação, o coração apertou. Ela e o marido, Cladecir, 44 anos, acabaram vencidos, e as recordações de azul até hoje predominam nos 11 metros quadrados do cômodo incólume.

Ezequiel foi fruto da oitava tentativa de Marta Maria Pretto de engravidar. Quinze anos depois, com a morte do marido, o garoto virou a família de Marta. Mais três anos se passaram e o filho, de 28 anos, se foi, lançado contra a traseira de um caminhão.

— Eu sinto o cheiro dele. Tem vezes que é mais forte. Acho que depende de mim, de como estou — confidencia a mãe.

Quando a garganta da costureira Maria de Lourdes Webber Raupp, 59 anos, engasga, ela solta um berro, para dor da vizinhança. Dia desses, na pequena Dom Pedro de Alcântara, no Litoral Norte, gritou de saudade das traquinagens de Gabriel, 22 anos. O som, estridente, ecoou a ponto de despertar solidariedade. Ela recusou e explicou:

— Deixa eu gritar. Preciso aliviar o peito.

Na casa de Odete da Luz, 53 anos, e do marido, Edemar Rossetto, 57 anos, no município de Novo Barreiro, até a extensão do telefone é mantida no quarto de Everton, morto aos 29 anos, cuja despedida paralisou a vida do casal, há nove meses, até na arrumação da casa.

— Ele dizia que a cortina da sala incomodava. Sempre a prendia em um vaso de flores. Foi o que fez pela última vez antes de sair na tarde do acidente. Desde então, não consegui mais soltar a cortina — conta a mãe.

Os jovens tombados nessa guerra urbana deixam planos incompletos. Mariana ainda cultivava desejos infantis, aos 11 anos, quando partiu, forçando Nara e Clóvis Rodrigues a zelar por ursos de pelúcia, Barbies, roupas e sapatos da menina, intocados desde a ausência da filha única.

As histórias se cruzam e se repetem. Pais e mães carregam consigo objetos de valor inestimável. Noeli usa a corrente e o crucifixo de Willian, e o pai, um anel do garoto. Lisette adotou a gargantilha preta com pingente dourado em forma de coração, mimo de Alessandra. Eliane não desgruda da aliança que Luanda usava no dia da partida.

A dor das famílias amplia a sensação de impotência. Sonham em mudar o cenário dessa guerra que leva para o túmulo jovens que não se alistaram. No especial, as imagens retratam sete histórias paradas no tempo.

Trânsito: número de mortes já alcança o mesmo de todo ano passado

A violência no trânsito gaúcho deixou pelo menos 1.479 mortos desde o início do ano. O número é o mesmo que o registrado no ano passado inteiro, conforme levantamento de zerohora.com e Rádio Gaúcha, com informações do Detran (veja abaixo).

Relembre os acidentes mais graves no trânsito gaúcho a cada mês:

Janeiro
- Mãe e duas filhas morrem em queda de carro em arroio em Sapiranga
- Colisão de três caminhões mata quatro pessoas no Vale do Taquari

Fevereiro
- Carro bate em carreta e três pessoas morrem em Ciríaco
- Caminhão passa por cima de cinco veículos e mata quatro pessoas em Estação
- Veículo cai em banhado e três pessoas morrem em Venâncio Aires

Março
- Acidente deixa três mortos e duas crianças feridas em Teutônia
- Acidente em Carlos Barbosa mata três pessoas da mesma família
- Colisão entre caminhonete e carro deixa cinco mortos em Canoas

Abril
- Carro pega fogo e três vítimas morreram carbonizadas em São José das Missões
- Passageira, duas crianças e motorista de táxi morrem em acidente em Butiá
- Acidente deixa três mortos na Rota do Sol em São Francisco de Paula
- Colisão entre carreta e carro mata três pessoas no norte do Estado

Maio
- Colisão mata quatro pessoas em Canguçu
- Acidente entre carro e caminhão mata três idosas em Santo Ângelo
- Acidente deixa três mortos e três feridos em Três de Maio
- Identificados os três jovens que morreram durante acidente em Picada Café

Junho
- Acidente mata três jovens em São José do Norte
- Acidente em São Vicente do Sul mata pai e dois filhos
- Em dia com cinco acidentes, família é destruída em rodovia gaúcha

Julho
- Três pessoas morrem em acidente em Santa Maria
- Acidente mata quatro pessoas da mesma família em Osório
- Três pessoas morrem em colisão entre Uno e Gol, em Canguçu

Agosto
- Grávida morre após acidente em Casca
- Pedestre atropelado por ônibus em Porto Alegre é o milésimo morto no trânsito no RS
- Carro bate em poste, capota e motorista morre na Avenida Manoel Elias, em Porto Alegre
- Três pessoas morrem em acidente na ERS-265, em Canguçu
- Acidente em rodovia causa sete mortes em Canguçu

Setembro:
- Acidente deixa um morto e sete feridos em Campestre da Serra
- Criança e adolescente morrem carbonizadas em acidente em Canoas
- Motorista morre ao bater carro contra poste na Capital
- Carro colide contra poste e dois jovens morrem na Capital

Outubro:
- Empresário morre após colisão e explosão de carro na Capital
- Acidente deixa quatro mortos na BR-472 em Uruguaiana

Novembro:
- Três pessoas morrem em acidente de trânsito em Lavras do Sul
- Acidente entre ônibus, caminhão e oito carros deixa dois mortos em Carlos Barbosa
- Acidente na Capital deixa um morto

ZEROHORA.COM E RÁDIO GAÚCHA

domingo, novembro 21, 2010

Campanha de trânsito pela vida - IV

A pequena grande diferença que salva vidas

Gesto para atravessar faixas de segurança caminha para desuso

Prestes a completar um ano em Porto Alegre, gesto que ajuda pedestres a atravessar ruas é cada vez menos visto
Juliana Bublitz | juliana.bublitz@zerohora.com.br

A menos de um mês do aniversário de um ano do novo sinal de trânsito de Porto Alegre – a mão estendida –, o desrespeito continua imperando nas ruas e avenidas da cidade. Ao observar o comportamento de motoristas e pedestres em cinco pontos de grande movimento da Capital, onde se situam faixas de segurança sem sinaleira, Zero Hora constatou a ausência do gesto incentivado pela prefeitura para pedir passagem e verificou que poucos condutores deram preferência àqueles que pretendiam atravessar a rua.

Diante do Colégio Militar, no horário de saída dos alunos, a faixa não foi respeitada. As cenas de descaso repetiram-se em vias conhecidas pelo tráfego intenso, como as avenidas Borges de Medeiros, Aureliano Figueiredo Pinto e Erico Verissimo. Em todas elas, motoristas foram flagrados acelerando sobre a faixa, assim como pedestres atravessando fora dela – uma situação muito parecida com a que já havia sido registrada por ZH no início do ano.

Também não foram raros os casos de veículos freando em cima de populares ou parando sobre a faixa de supetão, inclusive ao lado da sede da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), na Avenida Erico Verissimo. Ali, como nos outros quatro locais visitados, não havia fiscais para coibir as infrações.

Além da ausência de agentes, surpreendeu o fato de que, apesar de todos reconhecerem a existência do sinal da mão, em nenhum momento o ato foi usado para pedir passagem. Em alguns casos, a frustração foi visível.

– Não acredito mais. Quase nunca funciona – afirmou Filipe Franco, 14 anos, aluno do Colégio Militar.

Diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari lamentou as reações captadas por ZH e disse que o órgão pretende intensificar as ações educativas, voltadas principalmente a escolas, a fim de reverter a situação.

– A EPTC, sozinha, não vai conseguir mudar os hábitos das pessoas. Precisamos que toda a sociedade abrace a causa e faça a sua parte – ressaltou Cappellari.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Causas dos acidentes de trânsito

Campanha de transito pela vida - III

Campanha de Trânsito pela Vida - II

Distração na direção é perigoso

Decisão do STJ enfraquece a Lei Seca

Decisão inédita do Superior Tribunal de Justiça (STJ) enfraquece o rigor da Lei Federal nº 11.705/08,mais conhecida como LEI SECA, e favorece o motorista que dirige alcoolizado e se recusa a fazer o teste do bafômetro. Por unanimidade, a sexta turma decidiu que, sem o teste do bafômetro ou o exame de sangue, o condutor flagrado sob efeito de álcool não pode ser processado criminalmente, ficando sujeito apenas às punições administrativas.


A decisão do STJ foi tomada no julgamento do Habeas Corpus nº 166.377, que pedia a extinção da ação penal contra um motorista paulista. Segundo a acusação, o homem dirigia seu veículo na contramão, quando foi abordado pela polícia: "Os policiais militares que o abordaram constataram o visível estado de embriaguez alcoólica do denunciado, que se recusou a se submeter a qualquer exame de alcoolemia, inclusive o bafômetro".


A defesa do motorista alegou a inexistência de provas, uma vez que o acusado foi submetido só a exame clínico, "o qual não é apto para constatar a concentração de álcool por litro de sangue".

O ministro Og Fernandes, relator do processo, entendeu que, antes da Lei nº 11.705/08, bastava que o condutor sob efeito de álcool expusesse a dano potencial a incolumidade de outrem. Mas, quando a LEI SECA entrou em vigor, estabeleceu o nível de alcoolemia, excluiu a necessidade de exposição de dano e delimitou a comprovação com o Decreto nº 6.488/08.
Em seu voto, o ministro Og Fernandes escreveu que "para comprovar a embriaguez, objetivamente
delimitada pelo artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, é indispensável a prova técnica
consubstanciada no teste do bafômetro ou exame de sangue".

Com base nesses argumentos, os magistrados decidiram pela extinção da ação penal. O julgamento foi presido pela ministra Maria Thereza de Assis Moura e participaram os ministros Celso Limongi, Haroldo Rodrigues. Todos votaram com o relator.

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Divergência:

Um caso exatamente igual foi julgado pela Quinta Turma do STJ, mas a decisão foi bem diferente. O relator, ministro Napoleão Nunes Maia Filho, negou o pedido de extinção da ação contra um condutor flagrado alcoolizado. O homem, também de São Paulo, se recusou a fazer o teste do bafômetro e o exame de sangue. No caso, o magistrado considerou suficiente o auto de constatação de embriaguez feito pela polícia no ato de flagrante.

Em seu voto, o ministro Napoleão Nunes Maia Filho escreveu que "há prova exuberante da materialidade do crime, cuja autoria não se discute e, a vingar a tese da defesa do ilustre impetrante, ninguém poderia ser processado por infração ao artigo 306 do Código de Trânsito, de maneira que seria melhor rasgar de vez a denominada LEI SECA, esquecer que o Brasil precisa progredir e integrar o chamado primeiro mundo a imitar o modus vivendi do romântico Far West norte-americano".

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Presidente da Comissão de Direitos de Trânsito da Ordem dos Advogados de São Paulo, Cyro Vidal
avalia que, se decisões como a da Sexta Turma do STJ forem frequentes, em breve haverá uma súmula e, neste caso, a LEI SECA perderá definitivamente sua força para punir de forma rigorosa quem comete o crime de dirigir alcoolizado. "A virtude está no meio: não pode ser lá nem cá. Em caso de notória embriaguez, ainda que sem exame técnico, o infrator deve responder pelo crime", opinou. Vidal catalogou 198 sentenças de diferentes estados absolvendo ou tirando da cadeia condutores que se envolveram em acidentes de trânsito fatal e que estavam alcoolizados.

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A LEI SECA fixa que qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às
penalidades administrativas. A aferição será feita por meio de teste em etilômetro. Para fins criminais será necessário o exame do sangue.

Campanha Australiana

O Filme que todos temos que assistir !!

Uma das maiores empresas de marketing do mundo, resolveu passar uma mensagem para todos, através de um vídeo criado pela TAC (Transport Accident Commission) e que teve um efeito drastico na Inglaterra.

Depois desta mensagem 40% da população inglesa deixou de usar drogas e de se alcoolizar, pelo menos nas datas comemorativas. Lamentavelmente não temos este tipo de iniciativa aqui no Brasil. Espero que todos assistam, mesmo que não se alcoolizem ou usem algum tipo de drogas, e que reflitam e passem para os seus contatos. Orientem seus filhos, sobrinhos, amigos etc...