Vítima foi jovem professor atropelado ao atravessar a rua na faixa na Capital
Nilson Mariano | nilson.mariano@zerohora.com.br
A ceifadeira de vidas em que se transformou o trânsito produziu, na manhã de ontem, a sua vítima número 1.000 no Rio Grande do Sul, neste ano. O professor André Lucas Silveira da Rosa tombou aos 23 anos, colhido por um ônibus sobre a faixa de segurança quando rumava para uma escola especial da zona sul de Porto Alegre. Iria preparar um bolo com os alunos, para celebrar o seu primeiro ano de trabalho na instituição.
A marca dos mil mortos chegou mais cedo em 2010 – no ano passado, foi atingida em novembro. Se persistir o atual ritmo da carnificina, este ano deverá superar os 1,2 mil óbitos registrados em 2009. Apuração da Rádio Gaúcha e de zerohora.com alerta que a maioria das vítimas se enquadra no perfil do professor André: homens entre 18 e 24 anos, eliminados dentro das cidades.
Os alunos da Escola Especial Dr. João Alfredo de Azevedo ficaram sem o bolo que seria confeitado para festejar o primeiro ano de trabalho do professor André na instituição. O mestre não apareceu. Seu corpo ficou estendido no asfalto, parcialmente esmagado pelas rodas de um ônibus.
André Lucas Silveira da Rosa, 23 anos, tornou-se às 7h30min de ontem a milésima vítima da guerra no trânsito este ano, segundo a contagem da zerohora.com e Rádio Gaúcha feita desde 1º de janeiro em todo o Estado. Ao atravessar o corredor de ônibus da Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon, sobre a faixa de segurança, foi atropelado por um ônibus da empresa Sudeste, conduzido por José Luiz Prestes Matos, 53 anos. Matos deixou o veículo em estado de choque e se esquivou de entrevistas. No Palácio da Polícia, também preferiu ficar calado ao prestar depoimento.
O professor iria ao encontro dos seus 13 alunos, com os quais prepararia o bolo de aniversário a muitas mãos. Desembarcara de um ônibus vindo da Zona Norte, onde mora, pegaria carona no Corsa da colega Maslova Vilhena, que leciona na Escola Dr. João Alfredo, localizada na Zona Sul e ligada à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Estacionada a 200 metros do local do atropelamento, Maslova viu a tranqueira na avenida, os policiais chegando, a sirene da ambulância abrindo caminho. Mas não imaginou que fosse de André o cadáver encoberto por mantas. Às 7h45min, preocupada com o atraso, telefonou para o celular do amigo. Quem atendeu foi o sargento Ronaldo Penha, do 19º Batalhão de Polícia Militar.
– O que a senhora é do André?
– Sou colega dele...
– Infelizmente, ele está em óbito – avisou o sargento.
Maslova não entendeu o desfecho trágico da linguagem policial. Aturdida, telefonou para a escola contando que André se envolvera num acidente de trânsito. Em torno das 8h, quando a notícia era confirmada pelas rádios, a diretora da Dr. João Alfredo, Vanessa Kulczynski, tentava encontrar meios de comunicar a morte aos 80 alunos e aos educadores. Chegou a convocar médicos, prevendo reações de desespero.
Professor também ajudava os pais
Pais foram buscar seus filhos, que choravam pela morte do “professorzinho”, apelido carinhoso devido à juventude de André. Professoras estavam em lágrimas pelo “mascote”, o caçula que se dedicava ao ensino de deficientes por ideal. Ele se formou em Pedagogia na PUCRS, em 2008, optando pela educação especial.
– Ele viveu para isso, estava sempre querendo melhorar – ressaltou a diretora Vanessa.
Nascido em Rosário do Sul, na Fronteira, André se mudou para Porto Alegre ainda pequeno, acompanhando os pais e o irmão, Cristiano, 29 anos. Aficionado por videogame e futebol, comparecia ao Estádio Olímpico para torcer pelo Grêmio, sempre com o mano mais velho. E não perdia o noticiário esportivo da Rádio Gaúcha.
– Ele era fã do Pedro Ernesto e do Sala de Redação. Como trabalhava no horário do programa, escutava pela internet, à noite – disse o irmão.
André se desdobrava, também ajudava os pais, o zelador Cleber Pinto da Rosa e Nara Miraci, que cuida de uma senhora doente. Quando terminava a jornada na escola especial, embarcava no carro de Maslova já abrindo a marmita que ele mesmo cozinhara. Até a parada do ônibus, almoçava às pressas o arroz de carreteiro ou bife com arroz, dentro do Corsa. Às 13h30min, já estava a postos em outro colégio.
Na Escola Dr. João Alfredo, ontem, a mesa de André, enfeitada com revistas de quadrinhos do Superboy e da família do Pato Donald, permaneceu vazia. No quadro-negro da sala de aula, uma equação matemática – quanto é 12 + 7 – deverá ser respondida pelo próximo mestre. A milésima vítima do trânsito será sepultada hoje, no cemitério Jardim da Paz.
A marca dos mil mortos chegou mais cedo em 2010 – no ano passado, foi atingida em novembro. Se persistir o atual ritmo da carnificina, este ano deverá superar os 1,2 mil óbitos registrados em 2009. Apuração da Rádio Gaúcha e de zerohora.com alerta que a maioria das vítimas se enquadra no perfil do professor André: homens entre 18 e 24 anos, eliminados dentro das cidades.
Os alunos da Escola Especial Dr. João Alfredo de Azevedo ficaram sem o bolo que seria confeitado para festejar o primeiro ano de trabalho do professor André na instituição. O mestre não apareceu. Seu corpo ficou estendido no asfalto, parcialmente esmagado pelas rodas de um ônibus.
André Lucas Silveira da Rosa, 23 anos, tornou-se às 7h30min de ontem a milésima vítima da guerra no trânsito este ano, segundo a contagem da zerohora.com e Rádio Gaúcha feita desde 1º de janeiro em todo o Estado. Ao atravessar o corredor de ônibus da Avenida Bento Gonçalves, no bairro Partenon, sobre a faixa de segurança, foi atropelado por um ônibus da empresa Sudeste, conduzido por José Luiz Prestes Matos, 53 anos. Matos deixou o veículo em estado de choque e se esquivou de entrevistas. No Palácio da Polícia, também preferiu ficar calado ao prestar depoimento.
O professor iria ao encontro dos seus 13 alunos, com os quais prepararia o bolo de aniversário a muitas mãos. Desembarcara de um ônibus vindo da Zona Norte, onde mora, pegaria carona no Corsa da colega Maslova Vilhena, que leciona na Escola Dr. João Alfredo, localizada na Zona Sul e ligada à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
Estacionada a 200 metros do local do atropelamento, Maslova viu a tranqueira na avenida, os policiais chegando, a sirene da ambulância abrindo caminho. Mas não imaginou que fosse de André o cadáver encoberto por mantas. Às 7h45min, preocupada com o atraso, telefonou para o celular do amigo. Quem atendeu foi o sargento Ronaldo Penha, do 19º Batalhão de Polícia Militar.
– O que a senhora é do André?
– Sou colega dele...
– Infelizmente, ele está em óbito – avisou o sargento.
Maslova não entendeu o desfecho trágico da linguagem policial. Aturdida, telefonou para a escola contando que André se envolvera num acidente de trânsito. Em torno das 8h, quando a notícia era confirmada pelas rádios, a diretora da Dr. João Alfredo, Vanessa Kulczynski, tentava encontrar meios de comunicar a morte aos 80 alunos e aos educadores. Chegou a convocar médicos, prevendo reações de desespero.
Professor também ajudava os pais
Pais foram buscar seus filhos, que choravam pela morte do “professorzinho”, apelido carinhoso devido à juventude de André. Professoras estavam em lágrimas pelo “mascote”, o caçula que se dedicava ao ensino de deficientes por ideal. Ele se formou em Pedagogia na PUCRS, em 2008, optando pela educação especial.
– Ele viveu para isso, estava sempre querendo melhorar – ressaltou a diretora Vanessa.
Nascido em Rosário do Sul, na Fronteira, André se mudou para Porto Alegre ainda pequeno, acompanhando os pais e o irmão, Cristiano, 29 anos. Aficionado por videogame e futebol, comparecia ao Estádio Olímpico para torcer pelo Grêmio, sempre com o mano mais velho. E não perdia o noticiário esportivo da Rádio Gaúcha.
– Ele era fã do Pedro Ernesto e do Sala de Redação. Como trabalhava no horário do programa, escutava pela internet, à noite – disse o irmão.
André se desdobrava, também ajudava os pais, o zelador Cleber Pinto da Rosa e Nara Miraci, que cuida de uma senhora doente. Quando terminava a jornada na escola especial, embarcava no carro de Maslova já abrindo a marmita que ele mesmo cozinhara. Até a parada do ônibus, almoçava às pressas o arroz de carreteiro ou bife com arroz, dentro do Corsa. Às 13h30min, já estava a postos em outro colégio.
Na Escola Dr. João Alfredo, ontem, a mesa de André, enfeitada com revistas de quadrinhos do Superboy e da família do Pato Donald, permaneceu vazia. No quadro-negro da sala de aula, uma equação matemática – quanto é 12 + 7 – deverá ser respondida pelo próximo mestre. A milésima vítima do trânsito será sepultada hoje, no cemitério Jardim da Paz.
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