ZERO HORA
COMBATE AOS DESMANCHES
Lições argentinas contra o crime
Detran deve adotar estratégia do país vizinho, que regulou
mercado de peças e reduziu os furtos e os roubos de
veículos
- MARCELO GONZATTO
O Estado deverá assinar um termo de cooperação técnica com o governo argentino para unir forças
no combate aos desmanches de veículos e às quadrilhas que os abastecem com carros roubados.
Esse acordo deverá formalizar a troca de experiências que já teve início, este mês, com a visita de
uma comitiva do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) ao país vizinho.
Entre as lições que os gaúchos trouxeram da viagem está a necessidade de criar uma política mais
abrangente contra o mercado ilegal de peças, que envolva diferentes órgãos públicos e não se resuma
à regularização dos desmanches – processo que se encontra em andamento no Estado.
A visita de três dias serviu para o diretor-presidente do Detran, Alessandro Barcellos, e técnicos
conhecerem o sistema argentino que regulou o mercado de peças usadas e, em um primeiro
momento, reduziu em mais de 40% a quantidade de furtos e roubos de veículos no país.
Como consequência, ainda barateou o valor dos seguros de automóveis. O impacto foi maior nos
primeiros anos após o cadastramento dos chamados “desarmaderos” de automóveis. Há pouco mais
de um ano, há sinais de que a fiscalização vem perdendo fôlego (veja entrevista).
A comitiva do Detran trouxe na bagagem um calhamaço com toda a legislação argentina referente ao
controle de peças e a ideia de ampliar a frente de ataque aos comerciantes de peças provenientes do
crime.
– Vimos que eles têm uma abordagem que vai além de apenas cadastrar desmanches. Há uma
política mais abrangente, que envolve desde a garantia de reposição de peças pela indústria até a
oferta de alternativas de trabalho para quem atuava na informalidade – revela Barcellos.
As observações poderão se transformar em novas medidas no Estado – além do cadastramento das
autopeças. Em linhas gerais, a intenção é promover uma integração maior entre diferentes secretarias
e órgãos a fim de combater o crime organizado. Também deverão ser analisadas iniciativas como a
implementação de ações sociais a fim de evitar o florescimento de um mercado ilegal. A intenção da
diretoria do Detran é formalizar a parceria com as autoridades argentinas nas próximas semanas,
mediante a assinatura de um termo de cooperação.
– A partir disso, deveremos fazer visitas mais operacionais, inclusive aos centros de desmanches
deles – observa o diretor-presidente do Detran.
ENTREVISTA- “Caíram os roubos de carro”
Fabián Pons - Gerente-geral
do Centro de Experimentación y Seguridad Vial
(Cesvi) da Argentina
O gerente-geral do Cesvi Argentina, Fabián Pons, responsável pela empresa que se dedica a
investigar medidas para ampliar a segurança viária e urbana envolvendo automóveis, afirma que o
credenciamento dos desmanches teve impacto significativo no país vizinho, mas traz um alerta:
o afrouxamento na fiscalização está colocando em risco os bons resultados.
Confira entrevista concedida por telefone desde Buenos Aires:
Zero Hora – Qual foi o impacto da regularização dos desmanches?
Fabián Pons – Em princípio, houve uma queda significativa nos roubos de carro. Esse sistema de
controle foi muito importante, principalmente na Capital Federal e na Grande Buenos Aires.
Depois, começou a se estender um pouco para o interior do país. No começo, reduziu-se o roubo
de carros praticamente à metade.
ZH – Como está a situação hoje?
Pons – Já faz um ano, um ano e meio que não está funcionando o controle (sobre os desmanches),
por meio da Direção Nacional de Fiscalizações. Então, isso gera uma tendência a que voltem a
surgir os desmanches ilegais.
ZH – Quem deve fiscalizar?
Pons – Quem fiscaliza é o Ministério da Justiça, com agentes que vão aos locais acompanhados
de agentes de polícia.
ZH – Por que a fiscalização diminuiu?
Pons – É o mesmo que nos perguntamos, é uma decisão política.