domingo, junho 24, 2012

Motoristas bêbados e armados






Antonio Carlos Pannunzio

Vem crescendo continuamente, na mídia, o número de notícias sobre tragédias
ocasionadas por condutores de veículos que, dirigindo bêbados, atropelam, mutilam
e matam pessoas que, nas calçadas, se consideravam a salvo dos riscos do trânsito. 
Também nas rodovias a embriaguez de condutores é causa determinante de um 
número crescente de ocorrências trágicas. Outro dado preocupante é a freqüência, 
cada vez maior, com que condutores envolvidos em ocorrências no trânsito recorrem
à arma de fogo que, ilegalmente, traziam consigo ou no interior do veículo, para 
colocar fim às discussões em que se envolveram, intimidando seus interlocutores ou,
pior ainda, ferindo-os ou tirando-lhes a vida.

Certamente um papel fundamental no combate a esses problemas cabe ao 
policiamento de trânsito, urbano ou rodoviário, mas há que se considerar que o 
veículo automotor é uma realidade onipresente enquanto o policiamento, mesmo 
quando provido de boas condições de mobilidade, só consegue estar presente a um
número restrito de locais. A educação do motorista para o respeito às normas que 
regem a circulação de veículos e mesmo para a obediência à legislação penal, no 
caso do porte de armas, isoladamente, só surtirá efeito a médio e longo prazo. 
Não responde, pois, plenamente, à expectativa dos brasileiros de uma redução 
dramática, e em curto prazo, de tais ocorrências.
O incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas, em particular da cerveja sempre 
associada nas peças publicitárias a situações afirmativas e prazerosas, tem na 
multiplicação dos desastres ocasionados por motoristas embriagados, um peso 
considerável que o discreto apelo ao consumo com moderação, inserido nos 
anúncios da bebida, não consegue refrear.

Chegamos a uma encruzilhada. Ou a indústria cervejeira avança voluntariamente,
rumo à melhor regulamentação dos comerciais de seus produtos, ou obrigará o 
Congresso Nacional a tomar a iniciativa de restringir os dias e horários em que tais
anúncios podem ser veiculados, limitando igualmente as associações psicológicas
induzidas pela publicidade, que encorajam o consumo precoce da bebida alcoólica.

A questão do motorista armado deve ser enfrentada com decisão. O desarmamento
dos cidadãos, resultou de um amplo consenso que superou os limites da divisão entre
governo e oposição.Apesar de seus efeitos positivos, caiu no esquecimento e isso 
está levando um número crescente de pessoas a retomar o hábito de carregar 
consigo armas de fogo, as quais acabam por transformar o que seria um bate-boca
inconseqüente num homicídio.

Diante da prolongada omissão do Executivo, deve o Congresso Nacional articular
medidas restritivas para reduzir drasticamente a presença de motoristas bêbados
e armados nas vias públicas do Brasil.

Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal e membro da Comissão 
de Relações 
Exteriores e de Defesa Nacional.

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